Sobrevivente de abuso na infância, cearense se torna ativista e lança livro sobre o tema: 'Literatura é instrumento poderoso'

  • 05/10/2025

“Menino Bernardo”: literatura como escudo contra a violência sexual infantil "Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância", escreveu Manoel de Barros (1916-2024) no poema 'Manoel por Manoel'. E essa frase tem guiado a vida e os escritos de Mônica Mota, cearense que sobreviveu aos abusos sexuais sofridos dos seis aos 12 anos e resolveu se tornar ativista da causa. Agora, Mônica lança o livro "Menino Bernardo", que aborda a violência contra crianças com deficiência. Siga o canal do g1 Ceará no WhatsApp A obra foi lançada na Casa de Saberes Cego Aderaldo, em Quixadá, e é inspirada em uma conversa entre a escritora e o pequeno Vinícius, filho de amigos dela. Diagnosticado com uma má formação da medula, o menino abriu os olhos da escritora para uma realidade cruel: pessoas com deficiência estão mais suscetíveis à violência do que aquelas sem essa característica. LEIA TAMBÉM: Empresário e político Tasso Jereissati é contemplado com o Troféu Sereia de Ouro 2025 Vídeo: Bebê cearense é escolhida para encontro com Papa Leão XIV no Vaticano "Eu faço agora o que não tive na infância: eu não tive um adulto que protegesse meus direitos, eu não tive um adulto que cuidasse de mim. Eu tento hoje fazer o contrário e espero que eu esteja conseguindo fazer", explica a escritora. ➡️ Atenção: esta matéria apresenta conteúdo sensível sobre violência sexual contra crianças e adolescentes, o que pode despertar gatilhos. Para denunciar casos semelhantes, entre em contato com o Disque 100. No fim da reportagem, confira mais detalhes sobre como realizar denúncias. Literatura como ferramenta de proteção Mônica Mota, escritora cearense e assistente social, sobreviveu a abusos sexuais na infância e transformou sua dor em ação literária para proteger outras crianças. Divulgação O livro conta a história de uma criança com deficiência física que, ao ser abordada por um adulto com más intenções, consegue denunciar e pedir ajuda da escola e de sua família. De maneira lúdica, com ilustrações e linguagem acessível, a obra também se torna um guia sobre como adultos devem agir para prevenir casos de abuso sexual: "O Bernardo, na história, já sabe que ninguém pode tocar no seu corpinho, ninguém pode fotografar ele sem roupa ou filmar; ninguém pode tocar em suas partes íntimas. Porém, mesmo assim, chega um adulto querendo tocar no seu corpinho. E por mais que o Bernardo diga que em seu corpo ninguém toca porque é um crime, fica o alerta de que sozinho ele não consegue sair (da situação). E é então que chega toda a sociedade, representada pela escola, pela família e pela comunidade para proteger o Bernardo". O personagem simboliza um cenário difícil enfrentado pelo Brasil. De acordo com dados do Atlas da Violência divulgado neste ano, quase 2,4 mil crianças e adolescentes com deficiência sofreram violência sexual no país em 2023. "Estudos indicam que esse grupo enfrenta taxas desproporcionalmente altas de vitimização, evidenciando a necessidade de abordagens específicas para sua proteção. Fatores como dependência de terceiros para atividades cotidianas, isolamento social e estigma contribuem para essa vulnerabilidade. Além disso, os agressores costumam ser pessoas do convívio próximo, como familiares, parceiros ou amigos, o que torna a identificação e a denúncia dos casos ainda mais difíceis", descreve o estudo. A obra, lançada em Quixadá, aborda de forma lúdica e educativa a violência sexual contra crianças com deficiência, ensinando sobre autoproteção e a importância do apoio da sociedade. Divulgação Foi o que ocorreu com a escritora Mônica Mota. Ela revela que dos seis aos 12 anos de idade sofreu abuso sexual de um adulto de sua família. "Foram seis anos seguidos de violência. A gente tem uma inversão de valores: quem deveria proteger está na verdade violando direitos. Acho que consegui transformar um tema muito difícil em uma ferramenta leve com o objetivo único e absoluto de proteger infâncias". Além de escritora, Mônica atua também como assistente social no Instituto da Primeira Infância (Iprede), onde trabalha com o público de crianças com deficiências, crianças com autismo, entre outras. “Tom, Elis e Chico” é seu primeiro livro e foi lançado em 2019 na XII Edição da Bienal Internacional do Livro. Junto com "Menino Bernardo", as histórias fazem um alerta urgente: "A literatura é um instrumento poderoso para prevenir violências, como a sexual. Apesar de ser um tema muito pesado, consegui transformar essa história trazendo as ilustrações como uma outra ferramenta. Muitas vezes essa criança ainda não sabe ler (...) Através das ilustrações e das palavras, a criança vai conseguindo criar repertório e ferramentas de autoproteção", comenta ao g1. É preciso ficar de olho nos sinais Abusos sexuais no Marajó inspiram 'Manas' No filme brasileiro "Manas", da diretora Marianna Brennand e com Dira Paes no elenco, a personagem Tielle (Jamilli Correa), de 13 anos, sobre abusos e assédios de seu pai. O longa foi baseado nos casos de exploração sexual infantil da Ilha do Marajó (PA), mas evidencia a violência intrafamiliar que afeta diversas meninas e meninos no Brasil. Como mostra o Atlas da Violência, a vulnerabilidade é ainda maior entre crianças com deficiências, "que têm quase quatro vezes mais probabilidade de serem vítimas de violência do que aquelas sem deficiência". "Especificamente, o risco é 3,7 vezes maior para qualquer tipo de violência, 3,6 vezes maior para violência física e 2,9 vezes maior para violência sexual. Crianças com deficiências mentais ou intelectuais são as mais expostas, com um risco 4,6 vezes maior de sofrer violência sexual", aponta a pesquisa. 💡 A violência sexual é definida como qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, obriga outra pessoa, de qualquer sexo e idade, a ter, presenciar ou participar de interações sexuais. Cena do filme 'Manas' Divulgação Para a escritora e assistente social Mônica Mota, a educação sexual é uma das principais formas de prevenir esses casos e ficar de olho no comportamento das crianças também ajuda a evitar o pior. No "Manas", a pequena Tielle passa a apresentar dificuldade na escola e até sintomas físicos depois que os abusos começam. "Essa criança pode não verbalizar de forma imediata, mas ela vai dar sinais no comportamento. É preciso observar os desenhos feitos por essa criança ou as brincadeiras dela. Se era uma criança comunicativa, que tinha uma boa interação social, mas que está mais retraída ou se tornou mais agressiva, por exemplo. E, sobretudo, ouvir a criança, acolher, deixar a criança falar exatamente o que ela quer falar", sinaliza Mônica. Dados do Atlas da Violência mostram que em 2023, cerca de 2,4 mil crianças e adolescentes com deficiência sofreram violência sexual no Brasil, evidenciando a vulnerabilidade desse grupo. Arte g1 Onde denunciar Polícia Miliar - 190: quando a criança está correndo risco imediato Samu - 192: para pedidos de socorro urgentes Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres Qualquer delegacia de polícia Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa Conselho tutelar Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia. WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008 Ministério Público Onde e como denunciar casos de violência contra crianças e adolescentes Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/10/05/sobrevivente-de-abuso-na-infancia-cearense-se-torna-ativista-e-lanca-livro-sobre-o-tema-literatura-e-instrumento-poderoso.ghtml


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